quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ministério Público Federal X Toron, Torihara e Szafir Advogados

Eis mais um round na difícil relação existente, especialmente, em São Paulo e Brasília, entre o Ministério Público Federal e os grandes escritórios de advocacia.
Não tecerei considerações, posto que não conheço os fatos o suficiente, limitando-me, portanto, a transcrever as duas versões:

"O estagiário de direito Luiz Eduardo de Almeida Kuntz, que trabalha no escritório de advocacia Toron, Torihara e Szafir Advogados, está pedindo à Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, junto com seus advogados, que seja oferecida representação criminal contra os Procuradores da República Álvaro Luiz de Mattos Stipp e Anna Cláudia Lazzarini, de São José do Rio Preto (SP), aos quais atribui os crimes de abuso de autoridade e denunciação caluniosa. Kuntz responde a inquérito sob a acusação de desacato e falsa identidade.

Segundo representação à OAB, no último dia 22 de setembro Kuntz tentou falar pessoalmente com os procuradores, na sede da Procuradoria da República em São José do Rio Preto, onde pretendia compulsar dois inquéritos policiais que não estão sob sigilo. Os procuradores estavam em reunião. Solicitou, então, a um funcionário da Polícia Federal, responsável por fazer a carga dos inquéritos policiais, autorização para examinar os autos. Sem nenhuma oposição dos funcionários da repartição, "adentrou na sala onde se encontravam as pilhas de autos para auxiliar sua localização".

Ainda segundo a representação, um funcionário, em altos brados e de forma intimidadora, afirmou que ele havia invadido uma repartição pública.

Na sequência, os dois procuradores "deram voz de prisão em flagrante delito ao ora representante e determinaram que dois vigilantes o levassem até uma sala de reunião dentro da Procuradoria da República e lá ficasse detido até que a Polícia Federal chegasse para conduzi-lo à delegacia". Ainda segundo seu relato, a procuradora afirmou que ele estava sendo preso por desacato.

Kuntz ficou "detido em uma sala da Procuradoria da República, vigiado por seguranças armados, impedido de se comunicar com os advogados do escritório que representa, até que, com a chegada dos agentes da Polícia Federal, foi encaminhado, de camburão --preso-- até a Delegacia de Polícia Federal, onde permaneceu detido por várias horas".

"Data maxima venia, os Procuradores da República em São José do Rio Preto, talvez alertados de que praticaram crime de abuso de autoridade, sem dúvida partem para a sórdida manobra de denunciar caluniosamente o representante, provocando contra si a instauração de inquérito policial por suposta prática do crime de falsa identidade, mesmo sabendo-o inocente", afirmam na representação os advogados Alberto Zacharias Toron, Edson Junji Torihara, Fernando da Nóbrega Cunha, Renato Marques Martins e Claudia Maria S. Bernasconi.

Estagiário é investigado em inquérito, diz MPF

Segundo nota divulgada pelo Ministério Público Federal, a título de esclarecimento de notícia publicada no site "Consultor Jurídico", os procuradores da República afirmam que:

- "Foi apenas a partir da confusão, seguida da recusa de entregar sua identificação e da ameaça de invadir o gabinete de procurador, que o procurador da República Álvaro Stipp deu voz de prisão ao advogado, uma vez que, por questão de segurança dos servidores e dos procuradores, não é possível permitir que uma pessoa não-autorizada e não identificada entre, mexa em processos muitas vezes sigilosos, sem autorização".

- "O referido advogado foi levado a uma sala de reunião, com banheiro, ar-condicionado, onde fez ligações, enquanto esperava a chegada de agentes da Polícia Federal".

- "Até a chegada dos policiais, em nenhum momento o advogado admitiu que era um estagiário de Direito".

- "Já foi aberto, na Polícia Federal, procedimento para investigar o estagiário por desacato e falsa identidade".

- "Antes do incidente, nunca houve qualquer problema com advogados na Procuradoria da República em São José do Rio Preto".

Consultados, por intermédio da assessoria do Ministério Público Federal em São Paulo, os procuradores não comentaram a representação feita pelo estagiário e seus advogados, informando apenas que ele responde a inquérito policial."

Com informações do Blog do Fred.

3 comentários:

Sérgio Soares disse...

Uma questão me chamou a atenção. Se os autos estavam na Procuradoria da República, sob os cuidados do MPF, por qual razão o estagiário teria pedido autorização a um funcionário da Polícia Federal para examiná-los?
Essa história me parece meio mal contada...

E tem também outra questão, que vez em quando ocorre: Se o juiz ou membro do MP está em audiência, reunião ou proferindo uma sentença/parecer importante, ele teria a obrigação de parar tudo, imediatamente, para receber o advogado (ou pior, lembrando do caso em enfoque, um estagiário), que na esmagadora maioria das vezes quer tão somente impetrar os famosos "embargos auriculares"?
Aos ditos embargos, sempre pergunto: Doutor, o que o senhor está me dizendo está narrado na petição? Se está, ótimo, vou examinar! Se não está, o senhor deveria providenciar outra peça!

Acho que um pouco de bom-senso e educação resolveria a situação, para todos, sem inúteis disputas de poder egocêntricas.

Carlos Vinicius disse...

Sérgio,

como vc disse, a notícia tem pontos estranhos (esse da PF é um deles).

Mas acho absurda essa coisa de querer ser atendido em qualquer hora, sob qualquer pretexto. A lei diz isso, concordo, mas é preciso bom senso para ler a lei. É preciso ser razoável. E não nos esqueçamos que o rapaz é estagiário.

Abraço.

Rubens disse...

Parquet fez o procedimento correto, não é assim que pode ter acesso ao procedimento inquisitivo administrativo, sem autorização e a devida identificação, como ia ficar a moralidade na administração da justiça, sem um controle do acesso aos documentos sob tutela do Estado.